Le Clézio
Como escrevi ontem, nunca li nenhum livro de Jean-Marie Gustave Le Clézio (só artigos e prefácios). Não é manifestamente o meu género de literatura. Creio no entanto que a obra de Le Clézio ilustra uma viragem muito interessante na percepção da literatura francesa: da «ruptura» (como diz a Academia) à literatura «nómada» (como repetem os críticos). É um facto que a Academia tem ignorado a dimensão «vanguardista» da literatura francesa. Premiou Claude Simon, um pouco a destempo e a despropósito, mas é uma excepção nas últimas cinco décadas. Lembremos que Camus e Sartre são ícones «modernistas» e Saint-John Perse um completo clássico. Não se tem visto nos nóbeis a sombra de uma literatura «Tel Quel», o que é curioso se pensarmos que esses autores servem tantas vezes de apressada sinédoque para a noção de «literatura francesa». O Le Clézio inicial era tributário daquelas ideias de «excesso» e «experimentalismo» dos vanguardistas, mas conquistou outro público quando se tornou um Lévi-Strauss arraçado de Chatwin, indo aliás ao encontro daqueles sentimentos ocidentais cíclicos de regresso à natureza e exaustão civilizacional.
Leio agora que em 1994, a revista Lire considerou Le Clézio «o maior escritor da língua francesa». Parece que ele respondeu: «Teria posto Julien Gracq em primeiro». É impossível não gostar dum homem que deu esta resposta.
Leio agora que em 1994, a revista Lire considerou Le Clézio «o maior escritor da língua francesa». Parece que ele respondeu: «Teria posto Julien Gracq em primeiro». É impossível não gostar dum homem que deu esta resposta.