A minha Audrey
Do meio de um livro cai um postal de Audrey Hepburn. É uma fotografia a preto-e-branco tirada por Yousuf Karsh em 1956, numa reprodução que comprei na National Portrait Gallery há uns anos. Audrey está de perfil, com um casaco de gola alta abotoado, o cabelo preso atrás, o rosto ligeiramente inclinado para a esquerda, as pestanas e sobrancelhas retocadas nuns olhos baixos, o nariz de que ela não gostava e nós gostamos tanto, a boca quase adolescente de alguém que vai em breve dizer uma frase. É uma fotografia maravilhosa, que eu comprei para oferecer à minha Audrey Hepburn mas que nunca cheguei a dar-lhe, e entretanto já nem nos falamos.
Audrey Hepburn é quase uma figura mitológica: uma mulher bela ao mesmo tempo educada e afectuosa. É um rosto clássico, mas de um classicismo com toques modernos, uma espécie de distanciamento acessível, se é que me explico bem. Socialmente, os traços são evidentes, mas depois há uma frescura que quebra o gelo. Filha de uma baronesa holandesa, Audrey namorou vários condes e príncipes, e interpretou várias princesas e condessas, mas nunca foi arrogante na tela ou na vida. Tem sido comparada a Grace Kelly, sua exacta contemporânea e única rival em termos de elegância e requinte aristocrático. [...]
(no Público de amanhã)