Olímpico
Gosto pouco de literatura «olímpica», e literatura autobiográfica olímpica então, nem vê-la; mas como em todas as regras, há uma excepção: os extraordinários diários de guerra de Ernst Jünger, que agora acederam a outro Olimpo: a Pléiade.
Não é de estranhar que seja a França que mais o promove; a Alemanha sempre desconfiou de um homem a quem alguns ainda chamam «nazi» (provavelmente, aqueles que nunca leram Sobre as Falésias de Mármore, 1939). Os diários de guerra, sobretudo os de 39-45, levantam certamente alguns problemas éticos, por causa da distância culturalista e «entomológica» que Jünger assume, enquanto a Europa se esventra; mas também podemos ler estes textos como exemplo de estoicismo letrado. Jünger contribuiu inequivocamente para o clima cultural que gerou o nazismo, mas percebeu a tempo que dali vinha a barbárie, e viveu a guerra como se a Alemanha e a França fossem aliados (culturais) e não inimigos.
A edição de Jünger numa colecção prestigiosa como a Pléiade não deve ser entendida como uma ofensa aos grandes oposicionistas e aos grandes perseguidos. É apenas uma homenagem a um homem que atravessou a tragédia da História com erros e grandezas, ideias complexas e um estilo ático.
[Adenda: Jünger em edição portuguesa:
O Coração Aventuroso, trad. Ana Cristina Pontes, Cotovia
Drogas, Embriaguez e Outros Temas, trad. Margarida Homem de Sousa, Relógio D'Água
Um Encontro Perigoso, trad. Ana Maria Carvalho, Difel
Eumeswil, trad. Sara Seruya, Ulisseia
A Guerra como Experiência Interior, trad. Armando Costa e Silva, Ulisseia
O Passo da Floresta, trad. Maria Filomena Molder, Cotovia
O Problema de Aladino, trad. Ana Cristina Pontes, Cotovia
Sobre as Falésias de Mármore, trad. Rafael Gomes Filipe, Vega
O Trabalhador, trad. Alexandre Franco de Sá, Hugin]