A cápsula
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Tem havido poemas a tudo. No arco temporal e estético que vai de Baudelaire a Ponge, tivemos poéticas da arcada e do sabão e de tudo o mais. O nosso Gedeão até escreveu um poema sobre o fecho éclair. Mas não conheço nenhum elogio da cápsula. E é injusto que não haja nem um. O vulgar comprimido ou a drageia são coisas grosseiras e arcaicas, que se esmagam e têm gosto e se sentem na garganta. Ao invés, a inodora e colorida cápsula é um modo altamente civilizado de medicação, um invólucro gelatinoso que se engole e que depois se dissolve, uma distribuição padronizada de vantagens químicas. Alguém que escreva, por favor, o elogio da cápsula.