3.11.08

Dificuldades com a monogamia

Na verdade, não tenho dificuldades com «a monogamia», mas com Monogamia (1997), que julgo ser o primeiro livro de Adam Philips traduzido em português (edição Angelus Novus). Philips é o terapeuta dos intelectuais londrinos e escreve em publicações como a London Review of Books. Gostei de tudo o que li dele, mas tenho um problema com Monogamy, ou antes, três problemas.

Desde logo, não creio que Monogamia seja realmente sobre a monogamia, tema quase tão impossível de estudar como, digamos, a existência do limbo. É mais justo dizer que Monogamia é sobre «as relações» ou «o casal», que são temas um pouco deslizantes.

Depois, embora Philips tenha bastante talento, não tem (acho eu) grande talento aforístico, e este livro é constituído por aforismos e paradoxos, às vezes bastante gratuitos, sobretudo quando se trata apenas de criar efeitos invertendo os termos das afirmações

Finalmente, embora Philips não seja de todo um Alberoni (deus nos acuda) também não é um Barthes, e a sombra imensa dos Fragmentos de um Discurso Amoroso obscurece Monogamy.

Isso não impede alguns aperçus (como se diz em inglês) interessantes, como quando ele explica que as terceiras pessoas são o garante (e não o perigo) da monogamia. E também gosto do conservadorismo com que Philips defende que quem escolhe a monogamia, rejeita acima de tudo as alternativas de vida: a «impessoalidade» (a promiscuidade) e o «isolamento».

E no entanto tudo isto me parece terrivelmente sisudo, embora tenha graça, quando eu preferia que fosse solene mas leve. Monogamia é a introdução portuguesa a Adam Philips: que venham agora On Kissing, Tickling, and Being Bored (1993) e On Flirtation (1995).