A janela indiscreta
Encontrámo-nos numa exibição estival da Janela Indiscreta, dois «casais» de quase adultos, e nessa noite ele mandou-me uma mensagem escrita em que dizia que eu estava com um aspecto «plácido». Nunca me tinha ocorrido esse termo, mas era bem escolhido: uma tranquilidade feliz e, digamos assim, completa, sentados eu e ela em cadeiras cá atrás a comentar baixinho a perversa geometria de Hitchcock. É óbvio que a placidez não durou muito, que não durou mesmo nada, e depois pensei como era curioso ter ido com ela ver exactamente aquele filme naquela esplanada, eu um entrevado como James Stewart e ela uma coquette como Grace Kelly. Com a desvantagem de eu não ter tido atenção e coragem, ao contrário de Jimmy, e de ela não ter tido paciência e ternura, ao contrário de Grace. Mas a vida, já se sabe, não é cinema.