3.11.08

W.

Quando George W. Bush apareceu, desconfiei, mas não demasiado. Era pouco articulado, o que é sempre uma desvantagem. Era filho de um anterior presidente, e não gosto de herdeiros em repúblicas. Tinha cunhado o termo «conservadorismo compassivo», e o conservadorismo é uma sólida tradição intelectual que dispensa adjectivos adocicados. Finalmente, Bush aparecia (lembram-se?) com uma agenda externa isolacionista, velha tentação de alguns Republicanos. Desconfiei, mas devia ter desconfiado mais. Julguei que Bush era um moderado, como o pai, e não me apercebi da entourage. Tinha lido alguns neocons, e embora não aprecie o espírito messiânico, achava que eram uma minoria intelectual.

Depois, aconteceu o 11 de Setembro. Era preciso reagir, e o ataque ao Afeganistão foi acertado. Mas a luta contra o terrorismo descambou. O atentado às Torres e ao Pentágono inaugurou aliás uma série de catástrofes de vária natureza: a invasão do Iraque, justificada com provas falsas e seguida de uma ocupação mal gerida; Guantánamo e o uso infamante da tortura; o furacão Katrina, combatido com medidas atabalhoadas; uma crise financeira que lembra 1929, em parte culpa da falta de tutela adequada.

Não há como negar o fracasso desta presidência, e os danos que causou à América e ao mundo.

Não posso dizer que me enganei acerca de Bush, porque não tinha especiais expectativas, mas enganei-me seriamente acerca da guerra. Um conservador é um céptico. Fomos pouco cépticos e deu no que deu. Que nos sirva de lição.