21.12.08

E Deus criou

Como já escrevi noutra ocasião: «(...) não é segredo que no cinema a beleza feminina sempre foi motivo de grande atracção. No ensaio La cinéphilie: invention d’un regard, histoire d’une culture (2005), o crítico francês Antoine de Baecque reconhece esse facto, e acumula exemplos de como mesmo os intelectuais se exaltavam com as mulheres na tela. Há textos dos canónicos Cahiers du Cinéma que são mais inventários da anatomia feminina que análise fílmica».

Inventários de anatomia não farei, mas aqui fica um inventário de nomes de mulheres em celulóide, no ano da Graça 2008.

Das jovenzinhas, duas das mulheres mais bonitas do mundo, as inevitáveis Natalie Portman e Keira Knightely (ai aquele vestido verde em Atonement). Nunca tinha dado grande atenção a Anne Hathaway e agora dou. Emily Blunt de roupa interior (Charlie Wilson’s War) foi um baque maior do que a invasão de Geórgia. Bond não dormiu com a espantosa Olga Kurylenko, mas dormimos nós. Duas invenções de Woody Allen brilharam: Romola Garai e Hayley Atwell. Mila Kunis, namorada do rapazinho do Home Alone, fez uma havaiana de cair para o lado em Forgetting Sarah Marshall, e a minha beta do ano foi Sarah Wright (The House Bunny). Clémence Poésy (In Bruges) e Mélanie Laurent (Paris) são as mulheres mais belas em filmes com nomes de cidades. E houve também a italianinha Diana Fleri e uma miúda underage, Louise Grinberg (Entre les murs).

Mas este foi um ano excepcional para as moças da minha faixa etária, na categoria flawless (Charlize Theron, Jennifer Connelly, Jennifer Garner, Rachel Weisz), no género «vamos lá jogar Trivial Pursuit a noite toda» (a sardenta Alice Witt, uma Carla Gugino em fogo, a cutchi cutchi Michelle Monaghan , e as mulheres adultas Paula Patton e Radha Mitchell). Eva Mendes teve a cena do ano, com mamilo, Blondie e tudo, mas a nudez de Elena Anaya em Saving Grace merece o título do filme. E não ficaria de bem com o multiculturalismo sem referir a esplendorosa turca Nurgül Yeşilçay, a canadina de origem marroquina Emmanuelle Chriqui e a libanesa Nadine Labaki.

A ternura dos quarenta? Também, mas sobretudo a tesão dos quarenta: Diane Lane continua a mulher madura mais desejável do cinema americano (e mais angustiada também), Naomi Watts em cuecas para Haneke durante meia-hora mostrou como é lindíssimo um corpo de pessoa normal, Julia Ormond reapareceu, tal como Mathilda May, que está um petisco. O mundo andou tão estranho que até a desengraçada Marisa Tomei estava sexy como o raio no último Lumet.

Reunido o júri, as dez finalistas são: Anaya, Blunt, Gugino, Kunis, Kurylenko, Labaki, Laurent, Mendes, Witt e Yeşilçay.

E Deus criou a mulher.

(para o Miguel Marujo investigar e ilustrar)