Os melhores de 2008
Blogues
A causa foi modificada
Cruel vitória
E Deus criou a mulher
Irmão Lúcia
Tame the Kant / Life and Opinions of Offely, Gentleman
Melancómico
Ouriquense
Pastoral portuguesa
Vontade indómita
Voz do deserto
Porque são blogues em que reconheço (mesmo que não conheça) pessoas únicas: o maradona, o Gonçalo, o Miguel, o Pedro, o Nuno, o Rogério, o Pedro e o Tiago. E há um ou uns desconhecidos, mas que suspeito quem são e que de todo o modo também reconheço.
Discos
American Music Club, The Golden Age
Beck, Modern Guilt
Goldfrapp, Seventh Tree
The Kills, Midnight Boom
Lambchop, OH (Ohio)
The Last Shadow Puppets, The Age Of Understatement
Micah P. Hinson, Micah P. Hinson and the Red Empire Orchestra
Nick Cave & and The Bad Seeds, Dig Lazarus, Dig!!!
Silver Jews, Lookout Mountain, Lookout Sea
Vampire Weekend, Vampire Weekend
Em termos musicais, não há decadência americana nenhuma.
Se Sea Change era Beck de coração partido, Modern Guilt é Beck estável e adulto, mas não menos lúcido nem menos inventivo nos arranjos e instrumentação. Gosto sempre dos American Music Club e dos Silver Jews, e embora estes discos deles nem sejam dos melhores, têm quota garantida; o mesmo se diga dos Lambchop, de quem a Pitchfork dizia que são uma banda «altmaniana» (meaning?). Micah P. Hinson deixou felizmente a costela country e gravou um disco quase de outtakes do primeiro álbum, o que é elogio bastante. Da famosa «cena de Brooklyn» só ouvi Vampire Weekend, os putos a imitar o Graceland, e achei, sei lá, o máximo.
Os ingleses andaram fracotes, mas gostei do regresso às paisagens pastorais dos Goldfrapp (depois da fase S&M), dessa grande aliança luso-americana que são os The Kills (rock is not dead, fuckers) e, estranhamente, do rock orquestral e cinematográfico do rapaz Alex Turner (eu que gosto moderadamente do Arctic Monkeys e imoderadamente de Alexa Chung).
Quanto a Nick Cave, continua a viver no Antigo Testamento, e Deus o abençoe.
O último Radiohead saiu mesmo no final de Dezembro, pelo que nem entrou na lista de 2007 nem da de 2008, embora mereça estar nas duas. You Follow Me, de Nina Nastasia (c/ Jim White) também é de 07, mas em 08 foi a BSO do Estado Civil, 'nough said.
À hora de fecho desta edição ainda não ouvi um punhado de discos de que é altissimamente provável que vá gostar (Beach House, Deerhoof, Robert Forster e Shearwater).
Álbum ao vivo: Bonnie «Prince» Billy c/ Harem Scarem and Alex Neilson, Is It the Sea?). Os melhores EP's foram dos dinamarqueses Northern Portrait, a banda mais parecida com Smtihs desde os Gene ou mesmo desde os Smiths. Ah, e há mais uma edição da Bootleg Series de Dylan.
Alguns bons álbuns que não estão no top: Gostei de Fleet Foxes, mais do que qualquer outra banda da nova onda folk, mas continuo a preferir Neutral Milk Hotel (embora «Your Protector» seja uma das canções do ano, entre o medieval e Morricone). O terceiro Portishead é francamente bom, mas tão diferente e tão agreste que acho que só entro nele à décima audição. Quanto a TV On the Radio: é do rock mais moderno que se faz, mas não tenho a mínima adesão emocional.
Filmes
Alexandra, Aleksandr Sokurov
Antes que o Diabo Saiba que Morreste, Sidney Lumet
Aquele Querido Mês de Agosto, Miguel Gomes
Corações, Alain Resnais
Este País Não é Para Velhos, Joel e Ethan Coen
Fome, Steve McQueen
Gomorra, Matteo Garrone
Nós Controlamos a Noite, James Gray
Quatro Noites com Ana, Jerzy Skolimowski
A Ronda da Noite, Peter Greenaway
O Segredo de um Cuscuz, Abdel Kechiche
A Turma, Laurent Cantet
Fiz e refiz os «dez mais» e nunca consegui que fossem dez, por isso paciência, ficam doze. A verdade é que foi um ano especialmente bom para o cinema europeu (9 filmes nesta lista) e especialmente fraco para o americano (apenas 3). Começando por estes últimos, fiquei espantado com o Lumet octogenário e o seu pessimismo implacável; e para pessimismo pessimismo e meio com os Coen numa espécie de sequela a Fargo sobre a ruindade da espécie. Gostei de todos os filmes de Gray, e este talvez nem seja o melhor, mas é difícil que alguém ainda reinvente a ligação entre família e crime como ele fez aqui, com crueza e grande estilo. Vários filmes europeus do ano tinham uma costela documental: Cantet filmou a escola, Kechiche os imigrantes magrebinos, Garrone a Camorra, Gomes a província portuguesa, Sokurov a guerra da Chechénia e McQueen evocou Bobby Sands (aquele que mais me marcou destes todos, pelo impacto visual; e uma estreia fantástica). Resnais continua de boa saúde cinematográfica (tal como Rohmer, que não está na lista), em versão bastante mais humanista do que foi seu hábito noutros tempos. Skolimowski, eureka, regressou, com a história de amour fou mais tocante do ano. E para terminar, o único destes filmes que não vi em mais nenhuma lista: o Rembrant de Greenaway, o único filme do inglês de que gostei desde 1991, entre o tableau vivant, a bruteza sensual e o enigma policial (e uma rima com A Ronda da Noite da Agustina que é uma coincidência fascinante).
Menção especial: o admirável La Question Humaine, 2007, de Nicolas Klotz, que não teve estreia nacional.
[Perdi sete ou oito filmes relevantes, mas creio que desses só um poderia entrar nesta lista: Haverá Sangue].
Na Cinemateca vi várias obras-primas e bastantes curiosidades, mas destaco os grandes filmes que vi pela primeira vez: Il Deserto Rosso (Antonioni), Hangover Square (Brahm), High Planes Drifter (Eastwood), I Shot Jesse James (Fuller), Der Siebente Kontinent (Haneke), I Was a Fugitive from a Chain Gang (LeRoy), Der Verlorene (Lorre), Deux Hommes à Manhattan (Melville), The Bad and the Beautiful (Minnelli), The Killers (Siodmak), Solntse (Sokurov).
Livros
Odes, Horácio
(Cotovia, tradução Pedro Braga Falcão)
A Faca Não Corta o Fogo, Herberto Helder
(Assírio & Alvim)
Platónov, Anton Tchékhov
(Campo das Letras, tradução António Pescada)
Primeiro Amor, Ivan Turgueniev
(Relógio D´Água, tradução Nina Guerra e Filipe Guerra)
Castelos Perigosos, Céline
(Ulisseia, tradução Clara Alvarez)
O Céu É dos Violentos, Flannery O’Connor
(Cavalo de Ferro, tradução Luís Coimbra)
A Derrocada de Baliverna, Dino Buzzati
(Cavalo de Ferro, tradução Margarida Periquito)
Os Detectives Selvagens, Robert Bolaño
(Teorema, tradução Miranda das Neves)
Fome, Knut Hamsun
(Cavalo de Ferro, tradução Liliete Martins)
O Homem sem Qualidades, Robert Musil
(Dom Quixote, tradução João Barrento)
O Jogo do Mundo, Julio Cortázar
(Cavalo de Ferro, tradução Alberto Simões)
Diário de um Mau Ano, J M Coetzee
(Dom Quixote, tradução Teixeira de Aguilar)
Património, Philip Roth
(Dom Quixote, tradução Fernanda Pinto Rodrigues)
Por Que Escrevo, George Orwell
(Antígona, tradução Desidério Murcho)
Sob um Falso Nome, Cristina Campo
(Assírio & Alvim, tradução Armando Silva Carvalho)
Lacrimae Rerum, Slavoj Zizek
(Orfeu Negro, tradução Luís Leitão)
Lisboa – História Física e Moral, José Augusto-França
(Livros Horizonte)
O Mundo Pós-Americano, Fareed Zakaria
(Gradiva, tradução Edgar Rocha)
O Poder e os Idealistas, Paul Berman
(Alêtheia, tradução Raquel Vaz Pinto)
A Razão das Nações, Pierre Manent
(Edições 70, tradução Jorge Costa)
Uma lista bastante evidente: Cortázar, Hamsun, Horácio, Musil, Orwell (o ensaísta) e Turgueniev são clássicos tão clássicos que nenhum Harold Bloom os punha de fora. O catolicismo violento de O’Connor está agora integralmente em português; Castelos de Céline é tão bom como os dois romances mais conhecidos (e ainda mais tétrico); Platónov (que vi numa belíssima encenação no Teatro Nacional de São João) é um Tchékhov «imaturo» onde já está tudo o que depois aparece nas peças da maturidade. O Nobel Coetzee e o quase Nobel Roth representam a vitalidade da ficção em língua inglesa. Não conhecia os contos de Buzzati e fiquei, como dizia o outro, maravilhado. O grande Bolaño já tinha sido editado em Portugal, mas esta é a sua primeira obra-prima a aparecer aqui, uma interessante companion piece para Rayuela. José Tolentino Mendonça revelou-nos Cristina Campo, e os seus ensaios breves são estupendos. Tive o privilégio de conhecer e apresentar Slavoj Zizek, erudito e provocador, e estes ensaios de Lacrimae Rerum, sendo sobre cinema, não exigem tanto aos leigos em Schelling. O melhor livrinho de política que li foi o de Pierre Manent (como «dessacralizar» o conceito de nação num mundo já dessacralizado), enquanto Paul Berman explicou 68 e os seus herdeiros. O ensaio de Zakaria não é um espanto, mas ainda assim parece menos justificativo do que o de Fukuyama. Os livros portugueses de que mais gostei este ano foram quase todos reedições, mas entre outros possíveis (Maria Velho da Costa ou Teresa Veiga, por exemplo), escolhi o regresso de Herberto e uma obra de amor e erudição sobre Lisboa.
A causa foi modificada
Cruel vitória
E Deus criou a mulher
Irmão Lúcia
Tame the Kant / Life and Opinions of Offely, Gentleman
Melancómico
Ouriquense
Pastoral portuguesa
Vontade indómita
Voz do deserto
Porque são blogues em que reconheço (mesmo que não conheça) pessoas únicas: o maradona, o Gonçalo, o Miguel, o Pedro, o Nuno, o Rogério, o Pedro e o Tiago. E há um ou uns desconhecidos, mas que suspeito quem são e que de todo o modo também reconheço.
Discos
American Music Club, The Golden Age
Beck, Modern Guilt
Goldfrapp, Seventh Tree
The Kills, Midnight Boom
Lambchop, OH (Ohio)
The Last Shadow Puppets, The Age Of Understatement
Micah P. Hinson, Micah P. Hinson and the Red Empire Orchestra
Nick Cave & and The Bad Seeds, Dig Lazarus, Dig!!!
Silver Jews, Lookout Mountain, Lookout Sea
Vampire Weekend, Vampire Weekend
Em termos musicais, não há decadência americana nenhuma.
Se Sea Change era Beck de coração partido, Modern Guilt é Beck estável e adulto, mas não menos lúcido nem menos inventivo nos arranjos e instrumentação. Gosto sempre dos American Music Club e dos Silver Jews, e embora estes discos deles nem sejam dos melhores, têm quota garantida; o mesmo se diga dos Lambchop, de quem a Pitchfork dizia que são uma banda «altmaniana» (meaning?). Micah P. Hinson deixou felizmente a costela country e gravou um disco quase de outtakes do primeiro álbum, o que é elogio bastante. Da famosa «cena de Brooklyn» só ouvi Vampire Weekend, os putos a imitar o Graceland, e achei, sei lá, o máximo.
Os ingleses andaram fracotes, mas gostei do regresso às paisagens pastorais dos Goldfrapp (depois da fase S&M), dessa grande aliança luso-americana que são os The Kills (rock is not dead, fuckers) e, estranhamente, do rock orquestral e cinematográfico do rapaz Alex Turner (eu que gosto moderadamente do Arctic Monkeys e imoderadamente de Alexa Chung).
Quanto a Nick Cave, continua a viver no Antigo Testamento, e Deus o abençoe.
O último Radiohead saiu mesmo no final de Dezembro, pelo que nem entrou na lista de 2007 nem da de 2008, embora mereça estar nas duas. You Follow Me, de Nina Nastasia (c/ Jim White) também é de 07, mas em 08 foi a BSO do Estado Civil, 'nough said.
À hora de fecho desta edição ainda não ouvi um punhado de discos de que é altissimamente provável que vá gostar (Beach House, Deerhoof, Robert Forster e Shearwater).
Álbum ao vivo: Bonnie «Prince» Billy c/ Harem Scarem and Alex Neilson, Is It the Sea?). Os melhores EP's foram dos dinamarqueses Northern Portrait, a banda mais parecida com Smtihs desde os Gene ou mesmo desde os Smiths. Ah, e há mais uma edição da Bootleg Series de Dylan.
Alguns bons álbuns que não estão no top: Gostei de Fleet Foxes, mais do que qualquer outra banda da nova onda folk, mas continuo a preferir Neutral Milk Hotel (embora «Your Protector» seja uma das canções do ano, entre o medieval e Morricone). O terceiro Portishead é francamente bom, mas tão diferente e tão agreste que acho que só entro nele à décima audição. Quanto a TV On the Radio: é do rock mais moderno que se faz, mas não tenho a mínima adesão emocional.
Filmes
Alexandra, Aleksandr Sokurov
Antes que o Diabo Saiba que Morreste, Sidney Lumet
Aquele Querido Mês de Agosto, Miguel Gomes
Corações, Alain Resnais
Este País Não é Para Velhos, Joel e Ethan Coen
Fome, Steve McQueen
Gomorra, Matteo Garrone
Nós Controlamos a Noite, James Gray
Quatro Noites com Ana, Jerzy Skolimowski
A Ronda da Noite, Peter Greenaway
O Segredo de um Cuscuz, Abdel Kechiche
A Turma, Laurent Cantet
Fiz e refiz os «dez mais» e nunca consegui que fossem dez, por isso paciência, ficam doze. A verdade é que foi um ano especialmente bom para o cinema europeu (9 filmes nesta lista) e especialmente fraco para o americano (apenas 3). Começando por estes últimos, fiquei espantado com o Lumet octogenário e o seu pessimismo implacável; e para pessimismo pessimismo e meio com os Coen numa espécie de sequela a Fargo sobre a ruindade da espécie. Gostei de todos os filmes de Gray, e este talvez nem seja o melhor, mas é difícil que alguém ainda reinvente a ligação entre família e crime como ele fez aqui, com crueza e grande estilo. Vários filmes europeus do ano tinham uma costela documental: Cantet filmou a escola, Kechiche os imigrantes magrebinos, Garrone a Camorra, Gomes a província portuguesa, Sokurov a guerra da Chechénia e McQueen evocou Bobby Sands (aquele que mais me marcou destes todos, pelo impacto visual; e uma estreia fantástica). Resnais continua de boa saúde cinematográfica (tal como Rohmer, que não está na lista), em versão bastante mais humanista do que foi seu hábito noutros tempos. Skolimowski, eureka, regressou, com a história de amour fou mais tocante do ano. E para terminar, o único destes filmes que não vi em mais nenhuma lista: o Rembrant de Greenaway, o único filme do inglês de que gostei desde 1991, entre o tableau vivant, a bruteza sensual e o enigma policial (e uma rima com A Ronda da Noite da Agustina que é uma coincidência fascinante).
Menção especial: o admirável La Question Humaine, 2007, de Nicolas Klotz, que não teve estreia nacional.
[Perdi sete ou oito filmes relevantes, mas creio que desses só um poderia entrar nesta lista: Haverá Sangue].
Na Cinemateca vi várias obras-primas e bastantes curiosidades, mas destaco os grandes filmes que vi pela primeira vez: Il Deserto Rosso (Antonioni), Hangover Square (Brahm), High Planes Drifter (Eastwood), I Shot Jesse James (Fuller), Der Siebente Kontinent (Haneke), I Was a Fugitive from a Chain Gang (LeRoy), Der Verlorene (Lorre), Deux Hommes à Manhattan (Melville), The Bad and the Beautiful (Minnelli), The Killers (Siodmak), Solntse (Sokurov).
Livros
Odes, Horácio
(Cotovia, tradução Pedro Braga Falcão)
A Faca Não Corta o Fogo, Herberto Helder
(Assírio & Alvim)
Platónov, Anton Tchékhov
(Campo das Letras, tradução António Pescada)
Primeiro Amor, Ivan Turgueniev
(Relógio D´Água, tradução Nina Guerra e Filipe Guerra)
Castelos Perigosos, Céline
(Ulisseia, tradução Clara Alvarez)
O Céu É dos Violentos, Flannery O’Connor
(Cavalo de Ferro, tradução Luís Coimbra)
A Derrocada de Baliverna, Dino Buzzati
(Cavalo de Ferro, tradução Margarida Periquito)
Os Detectives Selvagens, Robert Bolaño
(Teorema, tradução Miranda das Neves)
Fome, Knut Hamsun
(Cavalo de Ferro, tradução Liliete Martins)
O Homem sem Qualidades, Robert Musil
(Dom Quixote, tradução João Barrento)
O Jogo do Mundo, Julio Cortázar
(Cavalo de Ferro, tradução Alberto Simões)
Diário de um Mau Ano, J M Coetzee
(Dom Quixote, tradução Teixeira de Aguilar)
Património, Philip Roth
(Dom Quixote, tradução Fernanda Pinto Rodrigues)
Por Que Escrevo, George Orwell
(Antígona, tradução Desidério Murcho)
Sob um Falso Nome, Cristina Campo
(Assírio & Alvim, tradução Armando Silva Carvalho)
Lacrimae Rerum, Slavoj Zizek
(Orfeu Negro, tradução Luís Leitão)
Lisboa – História Física e Moral, José Augusto-França
(Livros Horizonte)
O Mundo Pós-Americano, Fareed Zakaria
(Gradiva, tradução Edgar Rocha)
O Poder e os Idealistas, Paul Berman
(Alêtheia, tradução Raquel Vaz Pinto)
A Razão das Nações, Pierre Manent
(Edições 70, tradução Jorge Costa)
Uma lista bastante evidente: Cortázar, Hamsun, Horácio, Musil, Orwell (o ensaísta) e Turgueniev são clássicos tão clássicos que nenhum Harold Bloom os punha de fora. O catolicismo violento de O’Connor está agora integralmente em português; Castelos de Céline é tão bom como os dois romances mais conhecidos (e ainda mais tétrico); Platónov (que vi numa belíssima encenação no Teatro Nacional de São João) é um Tchékhov «imaturo» onde já está tudo o que depois aparece nas peças da maturidade. O Nobel Coetzee e o quase Nobel Roth representam a vitalidade da ficção em língua inglesa. Não conhecia os contos de Buzzati e fiquei, como dizia o outro, maravilhado. O grande Bolaño já tinha sido editado em Portugal, mas esta é a sua primeira obra-prima a aparecer aqui, uma interessante companion piece para Rayuela. José Tolentino Mendonça revelou-nos Cristina Campo, e os seus ensaios breves são estupendos. Tive o privilégio de conhecer e apresentar Slavoj Zizek, erudito e provocador, e estes ensaios de Lacrimae Rerum, sendo sobre cinema, não exigem tanto aos leigos em Schelling. O melhor livrinho de política que li foi o de Pierre Manent (como «dessacralizar» o conceito de nação num mundo já dessacralizado), enquanto Paul Berman explicou 68 e os seus herdeiros. O ensaio de Zakaria não é um espanto, mas ainda assim parece menos justificativo do que o de Fukuyama. Os livros portugueses de que mais gostei este ano foram quase todos reedições, mas entre outros possíveis (Maria Velho da Costa ou Teresa Veiga, por exemplo), escolhi o regresso de Herberto e uma obra de amor e erudição sobre Lisboa.