10.12.08

Os nós e os laços

António Alçada Baptista escreveu dois livros fundamentais para qualquer pessoa que queira pensar o catolicismo português: Peregrinação Interior - Reflexões sobre Deus (1971) e Peregrinação Interior II - O Anjo da Esperança (1982). Fundou uma das revistas mais estimulantes do nosso panorama cultural (O Tempo e o Modo) e uma excelente editora (a Moraes). Foi depois disso um bom presidente do Instituto Português do Livro. Era um homem afável, culto, cosmopolita e dialogante. Isto é justo que se diga, e tem sido dito. Mas também é justo que se lembre que Os Nós e os Laços (1985) marcou uma viragem na sua carreira e, mais importante, no romance português, hoje infestado de «literatura dos afectos» e de afilhadas de Alçada. As pessoas falam muito de O Que Diz Molero ou Os Cus de Judas, mas creio que Os Nós e os Laços teve mais influência na escrita portuguesa, marcando uma deriva «débil» que durou vinte anos (ainda dura) e de que talvez nos tenhamos finalmente libertado com o aparecimento de alguém como Gonçalo M. Tavares.