Agora pelo menos
No segmento «Fiction» do seu filme Storytelling (2001), Todd Solondz conta a história de uma rapariga que se inscreve num curso de escrita criativa e se envolve sexualmente com o professor, um negro vencedor do Pulitzer. Ele aprecia sexo à bruta, e gosta de insultos raciais durante o acto. Chocada com o que ele a obriga a fazer e dizer, a rapariga decide escrever um conto confessional e explícito sobre essa experiência, texto que lê alto na aula, visivelmente perturbada. Os colegas fazem toda a espécie de comentários desagradáveis sobre a história (morais, estilísticos, ideológicos, pedantes).«Mas isto aconteceu», exclama a rapariga. O professor, que esteve calado e sisudo, comenta: «Eu não sei o que aconteceu, Vi, porque quando começas a escrever, torna-se tudo ficção». Mas acrescenta que, de todo o modo, esta história, comparada com as tentativas anteriores, é um avanço: «Agora pelos menos há um princípio, um meio e um fim».