O ano passado vimos em Lisboa uma versão escusadamente revisteira da violentíssima peça
Sexual Perversity in Chicago (1974). Agora, o Teatro Aberto apresenta um Mamet menos canónico mas tratado com mais seriedade:
The Woods (1979), com encenação de João Lopes.
É uma peça intimista, com apenas duas personagens. Nick e Ruth vão para uma casa junto de um lago à espera de encontrar um «paraíso perdido» que restaure a sua relação problemática. Mas nem aí se entendem: contam histórias duvidosas para passar o tempo, interrogam-se sobre o futuro, agridem-se.
The Woods é uma fábula sobre a inefável «incomunicabilidade do casal», com uma alusão aos contos de fadas (as tais que acontecem em bosques). A grande debilidade do texto talvez esteja na dialéctica forçada entre uma situação que surge naturalmente dos diálogos (muitos deles insignificantes) e a necessidade alegórica que aparece em evocações e monólogos (quase sempre significativos).
Quando a peça estreou em Nova Iorque, Mamet foi acusado de estar a «fazer Pinter», e percebe-se porquê: monossílabos e repetições pontuam a escrita, além de algumas desagradáveis onomatopeias. Em inglês, os diálogos funcionam relativamnte bem, mas o português é avesso a conversas elípticas ou sincopadas.
O que não funciona, nem em inglês, é o desenlace, a necessidade de tornar emotivo o quase abúlico Nick, ainda para mais num movimento «regressivo» que torna demasiado explícita a tese de «conto de fadas». Mamet nunca foi um literato, e
The Woods tem um artificialismo literato que nunca tinha visto no seu teatro e que não convence.
E no entanto, creio que encontramos no texto um clima muito verossímil de estagnação, de discursos descosidos noite dentro, de ciclotimia emocional.
Os dois actores desta versão têm limitações inultrapassáveis, mas isso não impede que
The Woods revele uma verdade fundamental: se amamos é também porque temos medo.