Não vale a pena transformar a entrada de Aquilino Ribeiro no Panteão Nacional numa 2ª volta do concurso «Os Grandes Portugueses» (desta vez menos exaltada, porque não mete AOS).
O Panteão é um monumento de «glórias da pátria» muito localizadas no tempo, e quase todas politizadas. Vejam bem a lista: quatro presidentes da República (Teófilo, Arriaga, Sidónio, Carmona), um militar tornado político (Delgado), três escritores (Garrett, Junqueiro e João de Deus) e uma fadista (Amália).
Tirando Garrett, todos os outros são discutíveis. Junqueiro é um poeta hoje caído no esquecimento (era considerado «maior que Camões» no seu tempo e teve funerais colossais). De João de Deus, ficou a lembrança nostálgica da «Cartilha Maternal» e quase nenhuns versos. Arriaga e Teófilo, os dois primeiros presidentes, fazem sentido; mas Sidónio (com quem simpatizo) foi um golpista e Carmona iniciou o regime autoritário. Delgado está como representante do «antifascismo» (e porque foi assassinado); foi objectivamente uma figura importante, mas nem pouco mais ou menos uma «grande figura». Amália representa um dos três efes (Eusébio talvez vá para o panteão, e Lúcia teria ido se tivesse morrido antes de 1974).
Aquilino, que é um grande escritor, não foi trasladado para o Panteão por ser um grande escritor. O que agora se homenageia é o carbonário, o bombista, o republicano, o «democrata». Razões não muito diferentes das que levaram Junqueiro ao mesmo pedestal. Mas isso também não tem mal nenhum. Cada regime tem os seus heróis.
Os «heróis da pátria» são inevitabilidades cujo culto deve ser moderado e céptico. Ninguém é um «imortal» porque está no Panteão (ou porque ganhou prémios, ou tem nome de rua, ou foi de uma Academia); são decisões baseadas em consensos ou maiorias circunstanciais.
Percebo que os monárquicos protestem por verem um hipotético regicida no Panteão. Mas nem a implicação no regicídio está provada nem o Panteão é o Trono do Altíssimo. Deixem lá o monumento de Santa Engrácia em paz.