30.4.08

Anne Hathaway, again

Uma das coisas boas numa cidade é o anonimato. Sobretudo porque o anonimato vem associado ao acaso. Como a Anne Hathaway impossivelmente translúcida de outro dia no Marquês que aparece de novo no Colombo, vestida de cinzento mas como se tivesse verdes e amarelos, numa coreografia toda devida ao telemóvel e com a mesma intensa quietude feliz. O anonimato é de repente acaso e o acaso adrenalina e a adrenalina talvez alegria.

29.4.08

Regras e «censura»



Vi esta semana dois documentários banais com uma mensagem semelhante: This Movie is Not Yet Rated (Kirby Dick, 2006) e Fuck (Steve Anderson, 2006). Num caso, é contestada a noção de «obscenidade» (e o seu controlo pela Federal Communications Commission), passando pelas famosas «seven words you can’t say on TV» que deram origem a um magnífico sketch de George Carlin. No outro doc, a instituição atacada é a Motion Pictures Association of America, dirigida durante décadas pelo algo mafioso Jack Valenti. Em ambos os filmes se defende o direito dos criadores a usarem a linguagem e a sexualidade que acharem necessária. Ambos ouvem um punhado de talking heads, mártires da liberdade de expressão como Steven Bochco, Hunter Thompson, Howard Stern e, ah pois, Tera Patrick, ou cineastas controversos como Kevin Smith, John Waters Atom Egoyan ou Matt Stone. São exibidas provas convincentes que denunciam a ideologia puritana e preconceituosa da FCC e a MPAA, no primeiro caso agravada pelo poder sancionatório e no segundo pelo secretismo do processo.

Por mais «libertário» que eu me sinta em matéria de criação artística, creio que estes documentários vão longe de mais quando usam o termo «censura». Censura é proibição. Ponto final. Uma classificação de NC-17 prejudica muito a distribuição de um filme, mas não o elimina. Uma indisponibilidade dos canais generalistas para passar certo programa não impede que ele passe com total liberdade em canais pagos como a HBO. Eu não tenho nenhuma objecção a cenas de nudez ou a «fucks» repetidos tantas vezes como em Tarantino: mas há quem tenha, adultos e pais de crianças. Essas pessoas têm o direito de estar protegidas, desde que não impeçam em absoluto a liberdade criativa dos outros. Se alguém quer mostrar uma orgia num filme, tem de aceitar que essa orgia não seja exibido na maioria dos cinemas ou em canais abertos (passe a expressão). Ninguém tem direito a proibir a liberdade criativa, mas também ninguém tem direito a esfregar caralhos e caralhadas na cara dos espectadores desprevenidos.

Sou contra a proibição de quaisquer criações artísticas, excepto aquelas que incentivem objectivamente a prática de crimes previstos na legislação penal. Mas acho que tem de haver regras no mercado, regras éticas e deontológicas e mesmo de defesa do consumidor. Os americanos têm uma obsessão puritana com o sexo, que faz com que toda a violência passe mais facilmente que um simples mamilo, mas isso é a psique americana, que não muda por decreto. Independentemente disso, concordo que há imagens com um conteúdo «potencialmente chocante», ainda que esse critério varie com a geografia e a época. Se há um número representativo de pessoas que se chocam determinados filmes ou programas, então é lícito que esses filmes ou programa seja exibidos em canais de assinatura ou em sessões para maiores de idade. Isso também é a liberdade. E isso de modo nenhum se confunde com a censura.

28.4.08

O Original de Laura



«Inspiration. Radiant insomnia. The flavour and snows of beloved alpine slopes. A novel without an I, without a he, but with the narrator, a gliding eye, being implied throughout». Vladimir Nabokov tomou notas como esta e escreveu várias páginas (aliás, vários cartões) de um romance chamado The Original of Laura, mas morreu sem que o tivesse terminado. Depois de muitas hesitações, o filho de Nabokov, Dmitri, decidiu agora dar à estampa o texto, mesmo sabendo que vai contra a vontade do pai. Em The Original of Laura (a Laura de Petrarca e Giorgione e Preminger?), o narrador recebe um romance chamado My Laura, e descobre que o romance é sobre a sua mulher. O jogo começa logo no título: o original de Laura é apenas aquele romance dentro do romance ou é também uma Laura original, fantasiada e depois transformada em simples mulher concreta?

O cinema comercial

Se o «cinema comercial» é um cinema que pode ser visto por toda a gente, que não tem grandes complexidades narrativas ou interpretativas, que não exige leituras ou conhecimentos especiais, que lida de modo directo com os anseios e os medos básicos, então não tenho absolutamente nada contra o cinema comercial: We Own the Night, por exemplo, é grande cinema comercial (a família como tragédia inelutável).

Se «cinema comercial» é aquele cinema feito para agradar ao maior número de pessoas, então não me interessa de todo. Não gosto de nada que seja feito para agradar «ao maior número de pessoas». De nada nem de ninguém.

No teu sofá



A melhor cena de abertura do ano, de um dos melhores filmes do ano (We Own the Night, James Gray), tirado de um site de, cof, cinema. Sonâmbula e excitante, uma cena a todos os títulos notável, dos Blondie ao mamilo, passando, se me dão licença, pela revisitação de um dos momentos mais memoráveis da minha biografia erótica (eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes).

26.4.08

Paredes de vidro

Se há coisa que falta em absoluto ao secretário-geral do PCP é precisamente a dialéctica. O mais que consegue, graças a um longo treino, é ocultar a estreiteza das ideias sob uma floresta de retórica.A argumentação desdobra-se numa chata enumeração de categorias, em que tudo se subdivide no primeiro aspecto, no segundo aspecto, no terceiro aspecto, no “por um lado” e “pelo outro lado”, nos seis critérios, os quatro fundamentos, e por ai fora. Até nos conduzir às subtis distinções escolásticas entre o partido de “novo tipo” e o partido de “tipo novo”, os problemas dos quadros e os problemas de quadros, ou os dois significados da palavra “organização”... Estamos em pleno S. Tomás de Aquino. Daí também o tom de moralismo sentencioso desta obra, que traz à ideia o famoso “Para ser um bom comunista” do falecido Liu Chao-chi. Como os velhos sábios chineses, Cunhal tenta segurar o passado atrás de normas de conduta minuciosas. Lá vem o elogio da modéstia e da pontualidade, a prevenção contra a arrogância, a condenação da lisonja, o amor pela verdade... Não estamos perante um livro pedagógico, como lhe chama caridosamente Baptista-Bastos (no Diário Popular de 4/9), mas perante um insuportável catecismo de preceitos virtuosos.

Ao mesmo tempo, este velho moralista tenta desastradamente mostrar-se moderno, para não afugentar os jovens. Tal qual como os padres da nova vaga que abrem a igreja ao rock. “Um comunista não deixa por isso de ser um ser humano”: pode-se rir, fumar, beber um copo, “viver mais ou menos intensamente o amor”. Pode-se harmonizar a militância com a vida pessoal. Que ninguém tenha vergonha de ser feliz. Não é necessário confundir dedicação com sacrifício. Etc., etc. Seria bem bom se o problema da modernização do revisionismo português se resolvesse com aberturas destas. (…) Por isso, Cunhal sente-se emparedado. Para a frente, fica um revisionismo moderno, sem preconceitos, “à italiana”, que ele, por formação e instinto, se sente incapaz de adoptar. Lá muito para trás ficou o marxismo revolucionário dos tempos heróicos, com que ele há muito cortou, faz agora precisamente meio século. Com esta obra, ele tenta dar continuidade a uma das suas melhores criações, um sistema firme, equilibrado e elástico de vida partidária que fez do PCP um dos mais eficazes partidos pequeno-burgueses para operários. Parece muito duvidoso que o consiga.

É verdade, com a morte de Francisco Martins Rodrigues (1927-2008) aproveitei para ler alguns números online da revista Política Operária. Os textos de Martins Rodrigues são dos mais consistentes (e certamente os mais claros) de entre os escritos por ideólogos marxistas portugueses. Dissidente do PC, não cansou de atacar Cunhal pela esquerda. FMR considerava-se um comunista revolucionário, na tradição leninista, e criticou o «revisionismo» de Cunhal, plasmado na defesa de uma «unidade nacional antifascista» com a burguesia (em vez de uma «vanguarda revolucionária do proletariado») e no apoio incondicional à URSS. Tenho perfeita consciência de que a «pureza revolucionária» de FMR e de outros como ele representava o que sempre representa quando triunfa: fuzilamentos. E no entanto, as suas análises políticas são geralmente sólidas e inteligentes, especialmente os minuciosos ataques às estratégias do PC ao longo das décadas.

O texto citado (sobre O Partido com Paredes de Vidro, 1985) é cirúrgico na desmontagem da retórica cunhalista, do «tomismo» marxista à «modernização» desajeitada, passando pelo «moralismo sentencioso». Cunhal escrevia bem quando escrevia seco, quando não se justificava nem se enredava em parêntesis mal fechados; mas como teórico, convenhamos, não era nenhum Gramsci. O PC foi um partido da resistência e depois um partido tacticista. O apoio canino à União Soviética fez o resto. Com essas limitações involuntárias e escolhidas, o pensamento crítico estava amarrado e todos os malabarismos argumentativos valiam. A extrema-esquerda sempre teve argumentos terroristas ou lunáticos, mas às vezes conseguia alguma agilidade conceptual. E, em casos como este, vemos um pensamento mais estruturado e mais denso do que «a cassete» do costume.

O Expresso dedicou 5 linhas à morte de FMR. É ridículo. Francisco Martins Rodrigues foi um ideólogo marxista importante. E o marxismo não é uma nota de rodapé na história das ideias contemporâneas.

24.4.08

Qui tollis (2)



A actriz americana Alicia Witt

O mundo das mulheres

Mesmo assim fiquei com ideia de que gagaguejei, de que me repeti, de que andei em círculos, de que me mexi catorze vezes no sofá, de que suei, de que meti a barriga para dentro e ela não ia, de que puxei as mangas do casaco, ajeitei as folhas, beberriquei a água à passarinho, fiquei com ideia de que disse Martin Lynch e David Scorsese, mas enfim, qualquer figura triste justificava a figura dela, e ainda por cima é realmente simpática e eu nem nunca acho ninugém simpático, há dias em que sou especialmente evangélico.

As mulheres complicadas

Uma vez um mail de um leitor que não me conhecia de lado nenhum: «sou como tu, gosto de mulheres complicadas», li aquilo e não podia negar, gosto de mulheres complicadas, só gosto de mulheres complicadas, como é que ele sabia?, lembrei-me de como gosto de mulheres complicadas num telefonema há minutos, uma coisa de nada, uma frase mais que trivial, uma sugestão, e logo tudo tão complicado, segundos e terceiros sentidos, um caso tão grande de coisas tão pequenas, e naturalmente sofro com isso e estupidamente gosto disso, das mulheres complicadas, e pelos vistos nota-se.

Das mulheres em política

Acho muitíssimo bem mais mulheres na política, como aliás em todo o lado. Acho muito bem a ministra da defesa espanhola agora grávida e a Condoleezza e a Bachelet e a senhora Merkel (de preferência sem aquele decote que levou à ópera). Acho muito bem a Manuela (que devia ter chefiado o Governo em Julho de 2004) e até acho bem a senhora Clinton (como candidata). Tudo desde que não me venham com a conversa de que as mulheres são diferentes em política. Desde sempre ouço essa tanga de as mulheres serem diferentes em política, mais pacíficas e compassivas e compreensivas e atentas, e depois eu perguntava sempre «e a Thatcher?» e as mesmas digamos «feministas» ficavam abespinhadas «essa não é uma mulher», ah, compreendi-te.

Ficar



23 de Março [de 1950]

O amor é verdadeiramente a grande afirmação. Queremos então ser, queremos contar, queremos - se for preciso morrer - morrer valorosamente, com esplendor, ficar, em suma. E, no entanto, a vontade de morrer, de desaparecer, está sempre ligada ao amor: talvez porque, sendo ele tão tiranicamente vida, desaparecendo no seio do amor, a vida seria ainda mais afirmada?

Cesare Pavese, O Ofício de Viver [1952], trad. port. Alfredo Amorim, Relógio D'Agua, 2004

Um segredo a um só ouvido

Já falei para 300 pessoas e já falei para 2 pessoas. Não faz assim tanta diferença. Quando a gente entra e avalia um auditório, isso talvez afecte o ânimo. E as reacções ou silêncios também têm a sua importância. Mas no essencial o número de pessoas não importa muito. Há uns meses, falei numa livraria sobre Beckett (no dia do seu centenário), lendo e comentando algumas passagens. Estavam talvez 8 pessoas e correu muitíssimo bem. Nunca com salas cheias consegui o mesmo grau de intimidade e entusiasmo. Ser um dos meus autores de cabeceira ajudou. Aconteceu o mesmo ontem, quando li algumas páginas do diário de Pavese (que nasceu há cem anos) para uma audiência de 6 pessoas. O Ofício de Viver é um dos livros da minha vida, e aquele gesto de pôr a morte entre a escrita e a publicação não pode ser recebido como se de mera literatice se tratasse. E portanto nada havia ali daquela pose kultural que às vezes assumimos por desfastio. O Ofício de Viver é vida também porque foi assinado pela morte, e é literatura também porque foi cuidadosamente deixado como tal, numa pasta com a anotação Il mestiere di vivere (1935-1950), antes de Pavese (como ele talvez gostasse de dizer) ter ido dormir. Falei para seis pessoas, ao começo da noite, numa livraria de centro comercial, e não sei se alguém prestou a mínima atenção, mas sei que foi melhor do que falar para uma multidão. É exactamente como diz o poema: «Não podendo falar ao mundo inteiro/ direi um só segredo a um só ouvido».

23.4.08

Coisas piores



HANNAH: There are worse things than chastity, Mr. Shannon.

LAWRENCE: Yes: lunacy and death.

Tennessee Williams, The Night of the Iguana (1961)

(para a Hannah; break a leg)

Ir ao japonês

E para mim era um utsukushisa to kanashimi to se faz favor.


A bandeira da União Europeia não se pode pôr da cabeça para baixo, em luto. Mas devia. O Tratado hoje ratificado no nosso parlamento é uma má notícia para a Europa. Como quase todas as más notícias europeias, em muitos aspectos resultará num bloqueio. Exemplo: não há (manifestamente não há) um política externa comum? Então criemos um «ministro dos negócios estrangeiros» com outro nome mas com grande importânica hierárquica. O que é que acontece? Quando houver um novo desacordo em matéria de política externa, quem é que o Alto Representante representa? Ou faz uma média aritmética das posições europeias, tão diferentes pela sua situação geográfica, alianças regionais, integridade territorial e passado recente? Cada vez que a Europa tem um destes «triunfos», é a própria ideia de unidade europeia que fica minada. É pena, mas talvez seja merecido.
Hoje, Dia Internacional do Livro e tal, é 3 em 1. Às 18.50, na SIC Mulher, participo numa discussão sobre adaptação de livros a filmes, conversa moderada por, gulp, Adelaide de Sousa. Uma hora depois, estarei na FNAC Cascais, que promove uma maratona de leituras, e lerei 10 minutos algumas páginas de um dos livros da minha vida, que agora não digo qual é. E uma hora mais tarde, felizmente só como assistente, temos Maldoror na Culturgest pelo senhor Canibal.

22.4.08

Qui tollis

















Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis.

Uma vantagem

É parecida com a Anne Hathaway mas almoça na Rua Alexandre Herculano.

Não apaguem a memória

Há uma associação «antifascista» chamada Não Apaguem a Memória; não concordo com algumas das suas ideias e não me revejo na sua linguagem, mas sou totalmente adepto desse conceito: não apaguem a memória. A desmemória é um vírus actuante na nossa civilização. Especialmente a desmemoria histórica. Nessa medida, apoio todas as campanhas que lutam para que as ignomínias sejam lembradas. Acho bem que a PIDE/DGS seja recordada e jamais esquecida. Estive no Terreiro do Paço no dia 1 de Fevereiro, na homenagem à memória de D. Carlos e de D. Luís Filipe, assassinados pela Carbonária fez agora cem anos. E fui esta manhã ao Rossio, à inauguração do Memorial às vítimas do massacre dos judeus, incentivado pelos dominicanos e perpetrado pelos lisboetas em 1506. É de louvar que a Câmara Municipal se tenha associado a estes eventos, e creio que talvez pudesse ter alguma intervenção no caso da polícia política. Não sou judeu, nem «antifascista» (no sentido codificado com que se usa esse termo), e simpatizo pouco com os monárquicos que conheço; não importa: o importante é que não apaguem a memória. É isso que um conservador deseja acima de tudo: que não apaguem a memória.

21.4.08

Sobre o futuro da direita

Tal como / O país, terá de escolher: ou menos / Puta ou melhor actriz.

(Gil de Carvalho)

Anglófilos & pacóvios



Não há paciência para os estrangeirados e tal, o VPV exagera e não sei quê, fatos às riscas e hahaha a Churchill Society e, valha-me Deus, gentlemanship, tudo cousas para rir ao sábado, que país provinciano, mas depois um fim-de-semana em Londres (eu disse: 1 fim-de-semana) e também eu brutus: Duchamp & Man Ray & Picabia na Tate, óptimos alfarrabistas em Charing Cross (e um Trilling que me faltava), The Lover & The Collection num double bill estranhamente divertido para assuntos tão cruéis, A Dança de Matisse vinda do Hermitage e tão impressionante como pensava mas muito mais extensa, o Vertigo na magnífica sala azul inclinada do Barbican e The History Boys de Alan Bennett em fim de carreira no West End, e ainda vimos o Daniel Craig em Leicester Square cheio de pressa, tudo isto, disse eu, num, como é que se diz, weekend, e lá estou eu anglófilo & pacóvio, estrangeirado low cost, e mal chego tiro logo do armário o tweed com cotoveleiras e rabisco uma ode ao charuto matinal que Sir Winston fumava ainda de chinelos.

A desobediência

Rudolph Giuliani comungou. Numa missa celebrada pelo Papa na catedral de St. Patrick, em Nova Iorque, o antigo mayor da cidade, duas vezes divorciado, quebrou as regras que afastam do sacramento da comunhão os divorciados recasados.

A decisão de comungar é, em qualquer caso, uma escolha individual; uma questão de consciência de cada católico. Não digo que Giuliani «fez bem». Ele é que sabe se fez bem. Também não defendo uma «desobediência civil» generalizada; mas sei e sinto que aquela proibição é injusta e quase ofensiva. Um divórcio é um fracasso. Um novo casamento é uma esperança. A Igreja não pode castigar quem fracasa nem quem reconstitui a esperança.

Este castigo é especialmente grave para um católico: afasta-se o crente do único acto da missa que tem uma dimensão especificamente transcendente. Sem a comunhão, a eucaristia é um ritual de leitura comentada e oração; mas com a comunhão, a eucaristia é um acto radical que separa os crentes dos não-crentes. Um acto que pela sua natureza afasta os agnósticos e os crentes que não se sentem dignos de receber a hóstia. Giuliani achou que era digno. Nenhum de nós sabe se ele tem razão.

É admissível que se exclua alguém da comunhão por causa de actos gravíssimos e incomuns. Mas voltar a casar depois de um divórcio é um acto comum e nada censurável. A proibição da Igreja tresanda a «lei iníqua».

Giuliani, não importa se por fé ou política, infringiu a lei. E o padre que o viu à frente não lhe recusou a hóstia. Dada a notoriedade de Giuliani, o acto apareceu em todas em notícias. Imagino que muitos estranhem tal bizantinice. Eu acho que foi um momento interessantíssimo na história cultural do cristianismo.

O aviador irlandês

Estou para «a esquerda» e «a direita» como o aviador irlandês do poema de Yeats: «I know I shall meet my fate / Somewhere among the clouds above; / Those that I fight I do not hate / Those that I guard I do not love».

Barões

Ah, então parece que a direita depende mais uma vez do empenhamento dos seus «barões» ou do seu abstruso absentismo. O problema com os «barões» (além das conotações garrettianas, enough said), é que, como convém a presuntivos aristocratas, não gostam de conspurcar a manápula. Gostam, bem entendido, dumas saudáveis facções, traições e conspirações, mas não apreciam, por exemplo, sardinhadas ou, digamos, estar na oposição. Como acontece em outros casos (vide manuais), os «barões» quando vão de férias (ou a isso são obrigados) arranjam um capataz mais ou menos capaz. E depois, quando voltam, exigem chave na mão e casa bem espanejada. Os «barões», com os seus derrières devidamente assentados em Conselhos de Administração, preferem muito justamente o vil metal ao passe social, mas ainda assim julgam-se com direito a indignações éticas e a esperanças arfantes dos patriotas. Eles querem mandar por direito divino, ou porque não dizem «fostes» e têm os filhos no St. Julian’s, mas são razões diletantes e a política não serve almas dilectas. A política é para quem a trabalha. Entre o povão e o barão, venha a luta de classes e escolha.

18.4.08

Zabriskie Point



Agora que assinalamos os quarenta anos do Maio de 68, vale a pena rever a longa cena de «lust in the dust» em Zabriskie Point (Antonioni, 1970). É uma coreografia do prazer poética e algo psicadélica, mas não passa de um devaneio visual. Um entusiasmo momentâneo que em nenhum momento aponta para um novo modelo de relações entre homens e mulheres. Era também esse modelo novo que o Maio quis construir. Foi também por isso que o Maio fracassou.

Elitista e liberal

A gaffe dos «sulistas, elitistas e liberais» não foi uma gaffe. Basta conhecer um bocadinho a direita portuguesa para perceber porquê. Há muita gente no «país profundo» que detesta «Lisboa». Há classes médias baixas e antigas classes altas que desprezam o «eixo Lisboa-Cascais». Há direitistas autoritários ou proteccionistas que ainda não aceitam as liberdades. E todos odeiam os «intelectuais».

Acontece que o PSD, o único partido de Governo na área do centro-direita, tem uma forte componente elitista, sulista e liberal. Elitista porque foi fundado por grandes burgueses do tempo do marcelismo, e nunca deixou de cativar as elites sociais. Sulista porque o poder está em Lisboa, mesmo que o Porto tenha sempre tido uma presença importante nos governos. E liberal porque uma economia de mercado integrada na União Europeia quase exige o liberalismo.

O PSD de Menezes quis combater os «sulistas, elitistas e liberais» e bateu no fundo. Seis meses erráticos, reactivos e grotescos, com pelo menos uma alteração grave (a mudança de posição face ao Tratado Europeu).

Esperemos que o próximo líder seja elitista (e não populista) e verdadeiramente liberal. A cidade onde vive é o que menos importa.

17.4.08

O meu dentista

Em La Notte (Antonioni, 1961), uma personagem confessa que desde que vive sozinha está muito mais sensível. «É o que me diz o meu dentista», acrescenta.

16.4.08

Bigger than life

















Parecem nomes de familiares mortos. São algumas das muitas salas de cinema lisboetas que eu ainda frequentei e que já fecharam: Quarteto, Condes, Mundial, Tivoli, Éden, Império, Estúdio, Apolo 70, Berna (e houve outras onde nunca cheguei a ir como o Estúdio 444, o Odéon, o Paris ou o Roxy). Hoje em dia os cinemas de Lisboa estão quase todos em centros comerciais, e reconheço que alguns são confortáveis e têm óptimas condições técnicas (como o UCI); mas alguma coisa se perdeu na experiência do cinema: a marca de programação de uma sala única, o convívio entre amigos cinéfilos, coisas tão simples como os bilhetes tipo comboio do Quarteto, as cadeiras do Condes que desciam quando nos sentávamos ou a sensação de estarmos no mesmo Tivoli onde tinha estreado em 1957 Bigger than Life.

(agradeço ao Paulo Ferrero que me refrescou a memória)

A segunda queda



Há sessenta anos, a 18 de Abril de 1948, enfrentaram-se nas eleições italianas os conservadores da Democracia Cristã e a esquerda unida na Frente Democrática Popular, liderada pelo Partido Comunista. Todos perceberam o que estava em causa: a primeira grande batalha eleitoral da Guerra Fria. Os americanos apoiavam a DC e a FDP tinha o apoio soviético. O Vaticano fez um apelo inédito e quase patético. A campanha foi violentíssima em palavras e actos. Votos contados, a DC teve à volta de 48% e a coligação de esquerda cerca de 31%.

O partido comunista italiano teve uma intensa actividade desde os anos 20, contou com grandes figuras (como Gramsci), sobreviveu ao fascismo e durante décadas dominou os sindicatos e os meios intelectuais. Em 1976, um PCI já em rota de colisão com a URSS ainda conquistava (sozinho) mais de 35% dos votos. A queda do bloco socialista não destruiu o PC; houve debates sobre «o nome e a coisa», mudanças de símbolo, cisões, cedências. Os pós-comunistas do PDS tornaram-se em pouco tempo esquerda «mainstream», a Refundação Comunista e os comunistas ortodoxos fizeram parte de governos de coligação. Em 2006, um comunista foi eleito presidente da Câmara dos Deputados e um (ex?)comunista foi eleito presidente da República.

Este domingo, 13 de Abril de 2008, uma nova coligação entre comunistas e verdes (Sinistra Arcobaleno) teve resultados eleitorais na casa dos 3%, abaixo do mínimo necessário para eleger deputados ou senadores. O parlamento italiano não tem hoje nenhum comunista, um resultado tão impensável e espantoso como a própria queda do comunismo soviético.

15.4.08

Basicamente era isto

At nine in the morning there passed a church,
At ten there passed me by the sea,
At twelve a town of smoke and smirch,
At two a forest of oak and birch,
And then, on a platform, she:

A radiant stranger, who saw not me.
I queried, “Get out to her do I dare?”
But I kept my seat in my search for a plea,
And the wheels moved on. O could it but be
That I had alighted there!


Thomas Hardy, «Faintheart in a Railway Train»

Thomas Hardy

Antes de escrever poemas desolados, Thomas Hardy ainda publicou uma vintena de romances onde se vislumbrava ocasionalmente a alegria. Um deles chamava-se (e bem) A Pair of Blue Eyes.

São gostos

Esquecer

As mensagens de voz guardadas no telemóvel ficam disponíveis durante um tempo, findo o qual são automaticamente apagadas. Nunca ficam gravadas para sempre: é preciso que as guardemos de novo de vez em quando. Basta um lapso, uma omissão, e elas desaparecem. «Esquecer» ou não «esquecer» alguém é a mesma coisa: um involuntário acto de vontade.

História

How do I define history? Well it's just one fucking thing after another.

(Alan Bennett, The History Boys)

10.4.08



Vou ali «live at Earls Court» e já venho.

As cores frias

Em Il Deserto Rosso, Giuliana (Monica Vitti) está indecisa quanto às cores com que vai pintar a sua loja. Parece inclinada a usar verde e azul. Explica porquê: são «cores frias» e que «não distraem as pessoas dos objectos».

É toda uma poética de Antonioni. Mas também pode ser uma ética para terceiros.

Mister Jones



Scorsese e Haynes perceberam que o misunderstanding é uma categoria essencial em Dylan. Boa parte das canções dele atacam o misunderstanding (ou misreading) que se fica pelo aspecto referencial ou pelas «opiniões sobre o mundo». Dylan é demasiado camaleónico, não se confunde com «causas» e «sentidos» únicos. Embora não duvide do seu próprio génio, ele também não percebe exactamente porque é que as pessoas se interessam tanto pelas suas ideias públicas e vida privada. O detestável «Mister Jones» de «Ballad of a Thin Man» (álbum Highway 61 Revisited, 1965) é ao mesmo tempo o jornalista imbecil, o purista indignado, o activista dogmático, o burguês filisteu, o crítico obtuso, o público fútil, toda essa gente insaciável que quer saber coisas que não interessam e que nunca percebe aquilo que realmente acontece:

You walk into the room
With your pencil in your hand
You see somebody naked
And you say, «Who is that man?»
You try so hard
But you don't understand
Just what you'll say
When you get home

Because something is happening here
But you don't know what it is
Do you, Mister Jones?

9.4.08

Boris Johnson

Não se pode dizer que os candidatos sejam entediantes. Daqui a três semanas teremos as eleições para mayor de Londres: Boris the Menace contra Red Ken. Espero que Boris Johnson entre a matar, mais ou menos como faz quando joga futebol:

8.4.08

Não se metam nisso

assuntos que só servem para perturbar a paz social. Não se metam nisso.

Os leprosos morais (2)



O poeta e «leproso moral» Osip Mandelstam, que morreu (aos 47 anos)
num campo de concentração soviético por ter satirizado Estaline

Os leprosos morais

Agualusa fez umas apreciações críticas sobre poetas angolanos, dizendo por exemplo que Agostinho Neto foi um poeta medíocre. Não importa a justeza do juízo: é uma opinião legítima em democracia. Mas em Angola ainda vigora o dirigismo cultural, e este estalinista anunciou logo que Agualusa é «(…) uma figura com todos os predicados para entrar na minha lista pessoal dos leprosos morais». Os ecos abjectos da expressão «leprosos morais» são todo um programa.

Sobre o Acordo Ortográfico

Não sou adepto deste Acordo Ortográfico.

Sei que em Portugal já houve alterações «legislativas» à língua (em 1911), e que não veio nenhum mal ao mundo. Reconheço que as duas grafias (portuguesa e brasileira) são um obstáculo à unicidade do português enquanto grande língua internacional. E percebo que uma alteração pode ter vantagens culturais e comerciais.

Também não está em causa a amplitude do acordo: parece que são umas 2 mil palavras alteradas, muitas das quais de uso restrito (científico, por exemplo). E não dou demasiada importância à questões de hábito e de gosto: muitas eliminações de hífens darão coisas horrorosas (como «autorrádio» e «coautor»), mas a língua já tem um número vasto de palavras horrorosas («inadimplemento», «fornicar»). A gente habitua-se a tudo.

É verdade que não me reconheço nalguns argumentos contestatários. Não me preocupa a suposta «cedência» ao português do Brasil: desde logo porque existem cedências mútuas e depois porque não me choca que um país gigantesco como o Brasil tenha um peso significativo na política da língua. O idioma chama-se português mas não pertence aos portugueses.

Aquilo que francamente me desagrada é o critério fonético. Se isto é um acordo ortográfico, que apenas modifica a língua escrita, não me parece sensato que a ortografia siga sempre o critério do português falado. A fonética do português varia de país para país e de região para região. A famosa questão das «consoantes mudas» é polémica, não apenas porque algumas não são realmente mudas, como porque muitas delas fazem falta na pronúncia da vogal seguinte. Em todo o caso, neste acordo a adopção do critério fonético faz-se à custa do elemento etimológico, e não creio que uma língua (ainda para mais antiga) deva abdicar do elemento etimológico, que contém uma explicação histórica e um lastro cultural.

A língua falada é a que utilizamos todos os dias, e ninguém despreza a importância da língua como instrumento prático e quotidiano. Mas a língua, enquanto legado, vive nos textos, e acima de tudo na grande literatura. Nunca falámos com Camões ou Camilo, mas lemos o português que eles escreviam. É o português escrito que dá identidade à língua portuguesa. Alterar o modo como escrevemos a partir do modo como falamos é uma ideia muito discutível.

Now we take Stockholm



Dylan deu a volta por cima. Tudo começou em 1997 com o início da trilogia que incluiu Time Out of Mind, "Love and Theft" e Modern Times. Houve o superlativo hino céptico «Things Have Changed». Tivemos o seco e impecável primeiro volume de Chronicles. E uma nova geração conheceu o homem através do documentário de Scorsese e do filme de Todd Haynes. Agora os prémios já não são apenas musiciais: são de «relevância cultural». Em 2007, o Príncipe das Astúrias. E em 2008 um Pulitzer especial «for his profound impact on popular music and American culture, marked by lyrical compositions of extraordinary poetic power». Depois de duas décadas de insucessos, Dylan voltou à excelência e ao reconhecimento. Sobreviveu a crimes inomináveis: a conversão evangélica, o «reaccionarismo» estético, o menosprezo pela mitologia «sixties», as gravatinhas texanas. Faz o que lhe apetece, como sempre fez. Agora, falta tomarmos Estocolmo.

7.4.08






















Amanhã, 8 de Abril, às 18.30, apresento na FNAC Chiado o livro O que está escrito nas estrelas , de José Carlos Fernandes, edição Tinta da china.

Emenda ao post anterior

Yes, and thanks, for the trouble you took from her eyes
I thought it was there for good so I never tried


Sincerely, L. Cohen

O amor não é uma democracia

O amor não é uma democracia. Se o amor fosse uma democracia, um homem que perdesse uma mulher diria, como nas noites eleitorais: «Acabo de telefonar ao meu adversário, congratulando-o pela sua vitória e desejando-lhe as maiores felicidades». E que eu saiba ninguém faz isso.

3.4.08

A fama & o provento



Na Visão, Julião Sarmento conta que às vezes lhe pedem especificamente trabalhos «com gajas nuas».

As mesmas pessoas?

BAKUNIN: Left to themselves, people are noble, generous, uncorrupted, they’d create a completely new kind of society if only people weren’t so blind, stupid and selfish.

HERZEN: Is that the same people or different people?

(Tom Stoppard, The Coast of Utopia, 2002)

Rock 'n' Roll (2)

Vi Rock ‘n' Roll há dois anos em Londres, no Duke of York’s Theatre, com encenação de Trevor Nunn, e ontem, em Lisboa, no Teatro Aberto, com encenação de João Lourenço. A versão portuguesa é muito semelhante à inglesa, com a novidade de ter imagens dos Plastic People of the Universe (a banda checa dos anos 60) que Lourenço desencantou em Praga. Mas notei duas grandes diferenças. Uma tem a ver com os actores. Beatriz Batarda e Paulo Pires estão muito próximos do registo de Emma Fielding e Dominic West que vi em Londres, talvez porque sejam duas personagens mais humanas. Em contrapartida, a interpretação de Rui Mendes é muito diferente da versão tumultuosa de David Calder (e imagino, da de Brian Cox na estreia). O Max londrino era colérico e sardónico, enquanto o Max lisboeta é zangado e irónico. João Lourenço explica, com graça, que os comunistas portugueses não são coléricos, e quis dar uma imagem que nós reconhecêssemos mais facilmente. É bem pensado.

A segunda grande diferença foi a reacção do público. No Duke of York, houve gargalhadas constantes, e nunca esteve em dúvida que se tratava de uma comédia. Aqui, risos esporádicos. Claro que o texto tem bastantes referências locais e jogos de palavras que se perdem na tradução, mas suponho que a questão tem a ver com uma atitude inglesa mais descontraída face ao comunismo, que em Inglaterra nunca teve quase vinte por cento (como nas nossas eleições de 1979) e que portanto pode ser discutido com menos pathos.

Se tiverem que escolher uma peça em cartaz, sugiro esta. It's only rock 'n' roll, but I like it.

Sticky fingers



«Isso que trazes no bolso é uma peça do Tom Stoppard ou estás contente por me veres?»

Rock 'n Roll (1)

Rock ‘n' Roll não é cativante apenas pelos aspectos mais imediatistas: o rock como oposição ao comunismo e o intelectual ocidental comunista vs o intelectual de Leste oposicionista; esses elementos estruturam a peça como «comédia histórica» (contemporânea), mas há outros que constituem a «comédia de ideias» propriamente dita. Eu diria que são 3:

1) A fidelidade do professor de Cambridge ao comunismo como ideia, apesar das suas vicissitudes concretas

2) os debates entre a oposição checa, ecoando textos de Havel e as opiniões heterodoxas de Kundera sobre o «exibicionismo moral» da oposição organizada

3) os «anos 60» como uma espécie de plataforma móvel entre o socialismo (contestado na sua vertente burocrática e repressiva) e o capitalismo (cujos valores burgueses são apupados).

Tom Stoppard dá ao professor, Max, uma dignidade combativa que impede que a peça se torne num panfleto «anti-comunista»: ele pode ter estado enganado toda a vida (como lhe diz o genro), mas havia nisso alguma consistência ideológica e ética (à mistura com uma cegueira voluntária).

As querelas oposicionistas, por seu lado, embora pareçam mais próximas de Havel (de quem Stoppard é amigo), não deixam de notar as contradições inerentes a uma «oposição oficial», que se revela talvez menos eficaz que a simples atitude de indiferença agressiva.

Finalmente, a contestação das juventudes ocidentais (e, na medida do possível, das juventudes de Leste) evidencia um movimento sociológico global que em última análise se acomoda melhor ao capitalismo (onde a marginalidade é culturalmente integrada) do que a uma ditadura (onde a marginalidade é vista como ofensiva e parasitária).

Rock ‘n' Roll também se podia chamar «Anos Sessenta» porque discute uma polémica cara a Max: em que medida é que a consciência individual influencia a consciência colectiva? Que um tema tão abstracto se torne assim vivido e divertido, eis o grande triunfo de Tom Stoppard.

1.4.08

Caracóis do mar nozes podres maçãs reinetas do meu quintal

Há uns anos, Alçada Baptista causou polémica porque propôs que se mudasse a letra («belicista») do hino nacional. Ontem, num concurso televisivo daqueles de «cultura geral», uma das hipótese de resposta foi «Alexandre O’Neill». E diz o concorrente: «Alexandre O’Neill julgo que foi quem escreveu a letra do nosso hino». Foi a ideia mais genial que ouvi nos últimos tempos. Já que os hinos nacionais têm sempre letras involuntariamente cómicas, ao menos que fosse um poema com ironias e sarcasmos bem cozinhados. Exit Henrique Lopes de Mendonça, enter Alexandre O’Neill. Eu por mim, assino já uma petição.